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E AGORA?

“Talvez as mulheres precisassem de uma voz para dizer que nem tudo são flores, mas que podemos, sim, lidar com espinhos”

— Marília Mendonça, 2016

Conforme analisei ao longo deste trabalho, as estratégias discursivas acerca do mito da beleza e, sobretudo, da magreza se moldaram de maneiras diferentes durante as últimas décadas, de acordo com o que parecia mais conveniente para o interdiscurso que rege as normas sociais e as necessidades dos poderes. O corpo da mulher magra virou sinônimo de saúde, indicador de classe, autonomia, juventude e bem-estar; enquanto o corpo da mulher gorda foi, pouco a pouco, estigmatizado e marginalizado. 

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Essas mudanças se refletiram no que foi, por muito tempo, a principal representante da cultura de massa da mulher: a revista feminina. Atualmente, suas publicações ainda circulam por meios digitais, com muito menos força. O público se tornou mais abrangente e sua potência se perdeu em meio à ascensão das redes sociais e à consequente multiplicação de informações disseminadas diariamente na internet. Agora, há muitos meios de disseminar as necessidades femininas.

 

Há muitas mulheres influenciadoras utilizando suas próprias plataformas para reivindicar pautas e direitos, já que não dependem mais dos algoritmos do que da divulgação de seus conteúdos em veículos jornalísticos para serem ouvidas. E não precisa ser uma influenciadora digital para influenciar pessoas e ampliar o alcance de uma opinião. É essa, afinal, a premissa das redes sociais: qualquer um pode ganhar projeção de uma hora para a outra. E assim, muitas mulheres e também homens desconhecidos não se calam diante de ataques sistemáticos. A cultura de massa das mulheres se dissipou entre muitas outras vozes, que por vezes repercutem as violências que sofremos.

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Existe, evidentemente, uma transformação em curso que vem alterando a comunicação entre mulheres. Pode ser uma fase inédita do mito da beleza ou, se não, a cultura dominante encontrará um jeito de criar ou resgatar um mito de opressão para compensar novas libertações. É o ciclo do patriarcado. O mito segue. Novos virão. A vida das mulheres é estar sob vigia e, por consequência, vigilante. Em O segundo sexo (1949), Simone de Beauvoir já dizia: "Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que se manter vigilante durante toda a sua vida"

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